O paciente portador de genuvaro (“joelho cambota ou em alicate”) pode ou não ter artrose em sua região medial (parte de dentro) do joelho. O mau alinhamento pode ser adquirido (alguma lesão que o causou) ou constitucional (paciente é assim desde jovem).
O genuvaro adquirido geralmente decorre de alguma lesão de cartilagem no lado medial do joelho, fruto de por exemplo, uma lesão do menisco não tratada (ou uma perda desse menisco após um trauma com remoção durante uma cirurgia), lesão da cartilagem pós- trauma, lesão crônica de um ligamento, fratura prévia, lesão repetitiva por determinada atividade ou mesmo obesidade, dentre outros.
O paciente percebe que o membro “entortou” ou “está entortando” para fora com o joelho ficando mais separado que o normal. Geralmente tem dor no bordo interno do joelho às atividades ou mesmo pelo simples fato de andar ou ficar em pé por longos períodos.
O tratamento com analgésico / antiinflamatório aliado a fisioterapia / hidroterapia e perda de peso sempre é o tratamento inicial. Medicações para fortalecimento da cartilagem e às vezes palmilhas (para casos leves) pode ser benéfico.
Mas quando a deformidade é elevada ou dolorosa sem melhora com o tratamento acima, realmente deve ser discutida a cirurgia.
A cirurgia envolve o realinhamento do membro através de uma osteotomia (cortar o osso). Primeiramente, deve-se realizar exames pré-operatórios como ressonância nuclear magnética e radiografia panorâmica (tipo de raio-x onde se pega todo o membro desde o quadril até o pé), além de exames laboratoriais e cardiológicos.
O paciente com genuvaro apresenta desgaste na região medial (interna) do joelho e devido o membro ter mal alinhamento, o peso corporal se transmite mais para o lado interno (justamente o lesionado) e pouco para o lado externo ou lateral (que geralmente é saudável). A função da osteotomia, mais do que estética, é uma cirurgia para melhorar a função do membro e ao realinhar este membro (ou até mesmo provocar um pequeno desalinhamento para o lado oposto) a carga de peso é distribuída preferencialmente para o lado externo que deve ser saudável (por isso realizamos a ressonância e uma artroscopia do joelho momentos antes da osteotomia para avaliar se o compartimento lateral realmente é saudável e capaz de receber o peso corporal).
Durante a cirurgia literalmente serramos o osso da tíbia e abrimos uma cunha que receberá uma placa com uma espécie de calço de apoio e fixada com parafusos. Para aberturas maiores (quando a deformidade é maior) colocamos enxerto ósseo retirado do osso ilíaco na bacia para auxiliar na consolidação (calcificação); aberturas pequenas não requerem enxerto ósseo e o organismo é capaz de preencher com osso que vai formando-se com as semanas.
O mais inconveniente desta cirurgia é o fato de não poder pisar até haver uma consolidação (o osso calcificar) e isto gira em torno de 2 meses, podendo variar de acordo com cada paciente. Isto não significa que o paciente não deva se locomover já que isso pode ser feito com muletas e apoio do peso no membro não operado. Desde o primeiro dia após a cirurgia o paciente já é estimulado a movimentar o membro para não perder mobilidade e prevenir atrofia muscular. A fisioterapia deve ser iniciada de imediato.
Após a cirurgia de osteotomia o membro fica esteticamente melhor, mas o mais importante é causar um alívio da carga do peso naquele lado mais comprometido e transferir a pressão para o lado oposto.
Em casos de uma artrose mais avançada os sintomas (dor, crepitação, episódios de derrame na articulação) ainda irão persistir mesmo após a cirurgia já que a lesão da cartilagem é crônica e permanece lá (apenas será menos pressionada pelo peso do corpo).
Pacientes jovens, magros, com melhor musculatura e acostumados a realizar alguma atividade física (de preferência de baixo impacto) tendem a ter um melhor resultado.
Os principais são pseudoartrose / falha na consolidação (quando não ocorre calcificação óssea ou quando esta demora mais que o normal), infecção da ferida operatória ou da placa, cicatriz hipertrófica (esteticamente não tão agradável), TVP (trombose venosa profunda; quando forma-se um coágulo em uma das veias da perna), rigidez com diminuição da mobilidade do joelho (quando a reabilitação fisioterápica é insuficiente).
A lesão da cartilagem é prevenida com uma vida saudável em termos de exercícios e peso corporal. Pacientes com lesão avançada, mesmo com a osteotomia são futuros candidatos à prótese do joelho devido a cronicidade da lesão. A osteotomia funciona muitas vezes como um procedimento para adiar uma prótese em um paciente que ainda não atingiu idade para submeter-se à prótese.